Foi o que disse a mãe de Rafael Ferreira dos Santos, quando descobriu que seu filho saía de São Bernardo do Campo até Diadema (Grande ABC Paulista), montado em sua bike, para fazer aulas de dança quando criança. Rafael, hoje com 25 anos, além de ter estudado, também dançou, muito! E dança até hoje...
Ritmo e carisma em perfeita sintonia neste menino sonhador, que "vive dançando". Atualmente, é professor de dança na Estação da Juventude e no Colégio Princípio das Artes. Rafael é carinhosamente chamado de "Primo" porque realmente parece primo de todos. Extremamente atencioso, ele trata seus alunos como se fossem seus irmãos mais novos. Rafael acredita que a dança, não importa qual o estilo, se street dance ou tango, além de trazer benefícios à saúde do corpo, faz um bem danado para a mente.
Olhando para o alto, como se estivesse se lembrando de algo, e com os olhos marejados, ele desabafa: "Conheço boa parte dos meus alunos. Eu luto, usando a dança, para que eles não caiam no crime e nas drogas, como já vi acontecer com vários outros garotos aqui no bairro. Eles passam uma boa parte do dia dançando aqui comigo, ao invés de estarem nas ruas aprendendo o que não presta. Eu adoro isso, me sinto realizado. Completo!"
Ele tira da dança a sua renda mensal, ao contrário do que sua mãe imaginava, pois não acreditava que o filho fosse dar boa coisa quando "matava algumas aulinhas" na escola, para aprender a dançar. Rafael dá aulas de dança, geralmente em instituições assistenciais. Já trabalhou em várias, como: o Osen, a Associação Comunitária da Vila Alpina, entre outras.
Primo me revela um pouco sobre sua vasta experiência no Movimento Break Beat Organizado, grupo que ele fundou com outros dançarinos em 2007. "Os meninos entram e saem do grupo. Mas eu gosto disso e digo sempre que eles são livres para voar. Porque, depois de aprenderem, eles caminham com as próprias pernas e ensinam para outros garotos" diz ele, satisfeito de seu trabalho.
Rafael já se apresentou com o "MB2O" (Eme Be Dois Ó) em alguns eventos importantes em São Paulo. Um deles, foi a abertura do show dos professores de dança do rei do pop mundial, Michael Jackson. Para este evento, foram selecionados somente 10 grupos de dança de todo o Brasil. A parceria com a LUB (Liga Urbana de Basquete), levou Rafael e os meninos do MB2O a se apresentarem também nos intervalos da exibição dos Globetrotters, quando estiveram em turnê no Brasil.
"O que me deixa chateado é que a gente não tem muito espaço para apresentar nossa arte fora do bairro. Ainda sofremos muitos preconceitos por sermos da periferia." Diz ele, em relação às dificuldades que enfrenta para se apresentar em eventos fora da Cidade Tiradentes: "As vezes os organizadores dizem: Ah, se sobrar um tempinho, vocês podem dançar. Pô, se sobrar um tempinho? Sacanagem, isso! E quase nunca pagam cachê. Poxa vida, somos artistas, queremos receber por apresentar nossa arte e entreter o público."
Estive no "Baile Funk Permitidão", realizado em 8 de agosto deste ano, domingo em que se comemorou o dia dos pais, e pude registrar sensação que Rafael causa quando dança. Confiram o vídeo:
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